
O frio aperta, o kimono branco quase imaculado aquece junto ao aquecedor. Os preparativos antes de partir para a aula de Karaté tornaram-se quase uma rotina. Comer uma peça de fruta, beber um iogurte, lavar os dentes e vestir o kimono já quentinho para que o impacto daquele tecido fino não me arrefeça por completo.
Ato o casaco, ponho o cinturão, visto um blusão quentinho e sigo rua fora até chegar ao dojo. Hoje a rotina repetiu-se, porém, como tinha frio e estava atrasada, mãos nos bolsos e uma corrida com o duplo objectivo de aquecer e despachar-me. Um pé mal levantado, um tropeçar na calçada e....
catrapuz, que grande trambolhão!
Procuro enrolar-me, como aprendi no judo há mais de 30 anos, consigo tirar as mãos dos bolsos mas não vou a tempo. Perna direita e mão direita embatem na calçada portuguesa esfarrapando joelho, perna e palma da mão. A brancura imaculada do kimono fica pintalgada de vermelho sangue e com a marca axadrezada da sujidade da calçada.
Levanto-me a coxear, vejo que não tenho nada partido, a perna começa a inchar e decido retornar ao lar. Assim se termina uma tarde da maneira mais parva que se pode imaginar...
Mas quem é que se lembra de correr com as mãos nos bolsos? ó sorte...