quinta-feira, 22 de março de 2012

Mação, terra de fogo

(Freguesia da Amêndoa)

Percorrendo os estradões da freguesia da Amêndoa, vejo a área que ardeu em 2003, com uma proliferação imensa de matos, ricos em diversidade botânica porém sendo um risco acrescido para os incêndios. Os pinheiros de regeneração natural, crescem desmesuradamente, sendo por vezes da mesma altura que os matos, com uma densidade tão elevada que em 1 ha podem estar mais de 15.000 árvores. Quem deveria fazer algo pela sua propriedade, o dono. Mas onde está? Em Lisboa, ou noutros concelhos em busca de melhores dias, ou mesmo no estrangeiro. A floresta arde, o descrédito neste banco natural onde de 4 em 4 anos, cortavam uns pinheiros para ajudar monetariamente a família, leva ainda mais a um abandono e a um "deixa andar".
Habitantes mais idosos relembram um dia triste de Julho de 2003: "O lume era tanto que até dói relembrar. Parecia que vinha pelo ar. Que existia gasolina no ar e aquilo ardia por ali fora. Passou por cima da minha cabeça. O fumo e o lume que voava era tanto que eu agachei-me ali naquele cantinho e rezei para ele passar depressa. Os fumos menina, eram tão espessos que o nosso cabelo parecia uma vassoura. Ai menina, nem me quero lembrar, que medo!"
Testemunhos que nos fazem compreender o comportamento físico do incêndio, como a intensidade, a imensidão, os fogos de copas, mas ao mesmo tempo o sentimento de quem é impotente para o parar, o medo e a revolta de quem viu e não quer voltar a ver, mas sabe, que o fogo existe e vai voltar. Este ano, no próximo, daqui a uma década? não sabe, mas que voltará, sim, de certeza!

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